Os trabalhadores ocupados (assalariados com e sem carteira de trabalho e por conta própria formais e informais) na construção civil brasileira são 7,065 milhões, dos quais 1,582 milhão no Estado de São Paulo (dados de 2023). No Brasil, o trabalhador médio do setor é homem, tem cerca de 41 anos e o ensino fundamental incompleto. Em sua maioria, trabalha por conta própria de modo informal, cerca de 37,9 horas semanais e teve renda média mensal de R$ 2.116,13 no ano passado. A mão de obra feminina representa 4,4% desses ocupados.
No Estado de São Paulo, o trabalhador médio da construção é homem, tem cerca de 43 anos e o ensino fundamental completo. Em sua maioria, também trabalha por conta própria de modo informal, cerca de 38,8 horas semanais e teve renda média mensal de R$ 2.552,99 em 2023.
Estes são alguns dos resultados de estudo encomendado pelo SindusCon-SP à consultoria Ecconit sobre o perfil destes trabalhadores. O estudo foi apresentado por Ana Maria Castelo, sócia da Ecconit, em webinar conduzido por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do sindicato, em 8 de outubro.
Abrindo o webinar, Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP, assinalou que “o estudo traz uma base sólida para nossas ações de enfrentamento à falta de mão de obra. Já estamos atuando em diversas frentes para encontrar alternativas. E o estudo indica que estamos no rumo correto. O SindusCon-SP seguirá estimulando a industrialização, tornando a construção mais atrativa. Em paralelo, continuaremos com nossas iniciativas de capacitação e busca de novos ingressantes nas profissões do setor.”
Segundo Eduardo Zaidan, a Missão Técnica que visitou a Espanha recentemente, constatou os mesmos problemas vivenciados pela indústria da construção brasileira em relação à mão de obra: envelhecimento dos trabalhadores, dificuldade de retê-los, falta de interesse de jovens, assim como as medidas de mitigação – realização de treinamentos e o esforço em interessar jovens entre 15 e 17 anos nas profissões do setor.
Informalidade
Em sua apresentação, Ana Castelo mostrou que, entre 2012 e 2023, a informalidade (conta própria informal e assalariado sem carteira) aumentou, passando de 63,1% para 67% do total de ocupados na construção brasileira. Nesse período, a remuneração média ficou relativamente estável (0,3%). Já em relação a 2019, houve alta de 10,3%.
Na construção civil paulista, a informalidade teve pequena queda entre 2012 e 2023, passando de 63,6% para 62,6% do total de ocupados no setor. Nesse período, a remuneração média caiu 4,5%. Mas em relação a 2019, houve alta de 9,8%.
Formalidade
Segundo o estudo, os trabalhadores com carteira representam 25,5% do total de ocupados na construção, ou 4,8% do total de trabalhadores assalariados formais do país. Sua idade média é de cerca de 37,9 anos, têm ensino médio incompleto. Em 2023, trabalharam em média 41,5 horas e tiveram renda média mensal de R$ 2.859,89, elevação de 2,5% em relação a 2019. Desses trabalhadores, 9,2% são mulheres.
Já os trabalhadores formais da construção no Estado de São Paulo em 2023 representaram 27,1% do total de ocupados no setor ou 3,8% do total de trabalhadores assalariados formais do Estado. Sua idade média era de 37,6 anos, tinham ensino médio incompleto e renda média de R$ 3.661,09, uma alta de 8,3% em relação a 2019. As mulheres representavam 12,4% deste contingente.
Atração de mais pessoal
Ao longo dos anos, a população ocupada na construção melhorou sua formação, o que em parte explica a dificuldade em atrair jovens para o setor. Neste cenário, o estudo sugere várias ações para atrair novos contingentes da população para trabalhar no setor.
Uma delas é aumentar a produtividade, investindo em maior industrialização, uma necessidade prioritária do setor. Processos construtivos mais industrializados envolvendo tecnologia abrem possibilidades de emprego atraentes, distantes do trabalho meramente braçal que caracteriza a atividade do setor.
Com isso, abre-se a porta para aumentar a proporção de mulheres nesta atividade, bem como para atrair os jovens a considerarem a construção como sua opção profissional.
Neste particular, é preciso investir na formação dos jovens, divulgando as potencialidades do trabalho no setor, e na capacitação daqueles que optarem por se formar na construção civil. Além dos que estudam na rede de ensino, há aqueles entre 15 e 29 anos que não trabalham nem estudam, os chamados “nem-nem”, que representam 19,8% da população brasileira.
Outra fonte de pessoal está entre os imigrantes, oferecendo oportunidades e capacitando-os para trabalharem no setor. Todas estas ações podem ser adotadas mediante parcerias com governos, associações e ONGs (Organizações Não Governamentais).
Dificuldades
O evento ainda contou com a participação de David Fratel, Roberto Pastor, Sérgio Cincurá, membros do Comitê de Tecnologia e Qualidade da entidade envolvidos com atração e capacitação de pessoal.
Fratel chamou a atenção para a dificuldade de atrair o jovem da geração Z para trabalhar na construção civil, mostrando-lhe que o setor dá sinais de inovação e industrialização. Ele relatou estar em andamento parceria com a ONG Mulheres em Construção, para capacitar mulheres em situação de vulnerabilidade no Senai-SP. Informou ainda que no Fórum Permanente da Negociação está se mudando a nomenclatura das profissões na construção para torná-la mais atrativa. Disse esperar que a reforma tributária também contribua para a industrialização na construção.
A propósito desta reforma, Yorki Estefan informou que a construção está lutando por uma redução de 60% da alíquota do futuro IVA (Imposto sobre Valor Agregado). Comentou que também é preciso mostrar aos trabalhadores informais do setor as vantagens de se formalizarem, em termos de remuneração e estabilidade. Ana Castelo apontou dificuldades para tanto, como a alta rotatividade, a dificuldade na retenção e a baixa produtividade desses trabalhadores. Há exceções, apontou Fratel, como profissionais prestadores de serviços que ganham muito acima dos trabalhadores formais. A esse respeito, cabe um estudo mais aprofundado, propôs Pastor.
Cincurá afirmou que o cenário é difícil. Falta mão de obra qualificada e falta mão de obra para qualificar, afirmou. As empresas estão se estruturando, porém luta com dificuldades como a elevada taxa de juros. Se os juros diminuírem e a demanda por obras aumentar, o problema da falta de pessoal se agravará, alertou. Além disso, salário baixo também implica baixa produtividade, ponderou. Isso deverá
Pastor lembrou que na crise de 2014 a 2017, o setor perdeu muita mão de obra. A partir de então, houve recuperação gradual da construção, que se acentuou a partir de 2021, gerando a escassez de pessoal qualificado. O desafio, segundo ele, é oferecer a capacitação fora dos canteiros de obras, para homens e mulheres que vivem em comunidades e necessitam de emprego. Outro problema, acrescentou, foi a elevação de custos, que retardou o avanço da industrialização. A pressão da falta da mão de obra deverá voltar a acelerar a industrialização, segundo ele, o que poderá atrair jovens. Mas no momento, este processo está muito lento.
A saída para a industrialização vem, mas é preciso investimento por quem produz e por quem utiliza, afirmou Zaidan. Segundo ele, a curva do crescimento econômico é uma senoide. Em uma atividade como a construção, que demanda grandes parcelas de capital para se desenvolver, é difícil um desenvolvimento sustentável para se fazer os investimentos necessários. Junto com os trabalhadores, acrescentou, deveríamos discutir como remunerar melhor os qualificados, e elaborar um estatuto próprio das condições de trabalho no setor.
Ana Castelo chamou a atenção para os prestadores de serviços da construção, onde residem os problemas de informalidade, alta rotatividade e baixa produtividade. Fratel lembrou que na ABNT há agora uma certificação de qualidade para essas empresas. Comentou que a falta de mão de obra no Nordeste está levando trabalhadores que vieram para São Paulo a retornarem para aquela região, e outros a migrarem para Portugal.
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